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A direita está de volta: é preciso enfrentá-la


13 de dezembro de 2017

No ano de 2017 houve o fortalecimento de um velho fantasma: A Direita, com até mesmo de alguns setores fascistas.

Ainda que apresente diferenciações entre si trata-se de um processo que vem ocorrendo em vários países e se expressa tanto nos resultados eleitorais quanto na propagação dessas ideias entre a população, inclusive, no interior da classe trabalhadora.

Até esse momento, nem todos os setores de Esquerda têm essa avaliação o que dificulta o enfrentamento e secundariza ou mesmo omite a importante tarefa de dialogar com a classe trabalhadora a fim de ganha-la para a luta contra o avanço e fortalecimento desses setores.

A direita e a extrema-direita na Europa

É principalmente nas eleições que a direita europeia tem mostrado, quando não ganham tem resultado expressivos, normalmente em torno de 20-25% dos votos.

Na França, o segundo turno das eleições foi disputado por Macron (um conservador) e por Marine Le Pen (defensora de posições deliberadamente fascistas). Na Holanda, a disputa entre candidato conservador e de extrema-direita também se repetiu.

Em ambos os casos os candidatos de extrema-direita perderam, mas mostraram força junto aos amplos setores da população. E quem os derrotou não foi nenhum setor progressista, mas a Direita dita “democrática”.

A esses se somam outros resultados expressivos de partidos de extrema-direita em outros países da Europa como Suíça, Hungria, Dinamarca, Finlândia e Áustria.

Outro processo eleitoral que reforçou esse resultado foi o obtido pelo partido “Alternativa para a Alemanha”, deliberadamente nazista. Pela primeira vez desde 1945, conseguiram eleger deputados para o parlamento alemão. É ainda mais significante esse resultado pelo fato de os conservadores já dominarem a cena política alemão há mais de 12 anos com Ângela Merkel.

Além das eleições, a direita europeia tem se colocada por posições políticas contra os imigrantes, posições nacionalistas, apoio a medidas repressivas, enfim, estão muito ativos.

Nas Américas o mesmo problema

A eleição de Trump, nos Estados Unidos, é outra expressão desse processo mundial. As mentiras de que os problemas econômicos e sociais são de responsabilidade dos imigrantes, o preconceito contra os mulçumanos, o discurso de maior intervenção estadunidense em outros países são pontos da pauta notadamente de Direita que esteve na base de construção do apoio de Trump e que garantiu a sua eleição.

Na América Latina também presenciamos o fortalecimento da oposição de Direita na Venezuela; as vitórias eleitorais de Macri na Argentina; o crescimento eleitoral da Direita no Peru; mais recentemente no Chile.

No Brasil o surgimento de grupos fascistas -ainda que pequenos-, o fortalecimento do MBL, a eleição de vários deputados conservadores (bancadas da bala, da bíblia, etc), dentre outras expressões, também mostram o fortalecimento da direita e suas ideias no país.

Questões que colocam para a Esquerda latino-americana desafios gigantescos para enfrentar essa conjuntura.

Está em jogo uma disputa de projetos

Nas crises econômicas, principalmente nas profundas como a atual, as classes sociais se movimentam, mesmo que inconscientes, para apresentarem alternativas.

Não é coincidência o fato de o fascismo e a extrema-direita se fortalecerem nos períodos de crise. Foi assim na Alemanha, na década de 30 do século passado, quando a burguesia alemã (a mesma proprietária de marcas ainda atuais como a Volkswagen) apostou e apoiou Hitler e o nazismo, por exemplo.

Também não é coincidência que são nas crises que estouram revoluções e revoltas operárias e populares.

As movimentações desses setores se organizando em “institutos” (como o instituo liberal, por exemplo), em atividades nas universidades, com propagandas nos meios de comunicação, com cursos e com apoio financeiro são parte do projeto de buscarem influência política.

Por isso, a necessidade de combate da Direita também é parte da luta e deve ser parte do programa para atender as necessidades da classe trabalhadora, do programa socialista, com propostas concretas contra o desemprego, a miséria, a fome, a concentração da riqueza, dentre outros, ou seja, que mobilizem a classe trabalhadora.

Portanto, a Direita só será derrotada com o combate e a mobilização da classe trabalhadora.

A direita e suas ideias ganharam influência em uma parte da classe trabalhadora

Apesar dos avanços eleitorais desses setores, avaliamos que não há, nesse momento, por parte da burguesia mundial uma “necessidade” política de aplicar regimes fascistas. No lugar tem aplicado uma política de restrição às liberdades democráticas com o aumento da repressão aos movimentos sociais e tem apostado na eleição de candidatos da tal “direita democrática”.

Tem sido assim não porque o capital tenha qualquer apego à democracia, mas pelo fato desses regimes de democracia parlamentar conseguirem aprovar as medidas necessárias ao capital e nos regimes ditatorias a oposição e a resistência da classe trabalhadora é muito maior e mais radicalizada.

Esse movimento tem sido sustentado por um processo de fomento de ideias conservadoras nos amplos setores de massas e que têm obtido adesão. O aumento do número de pessoas contra imigrantes, o crescimento de grupos fascistas, o aumento dos atos de racismo, etc. se combinam com os resultados eleitorais favoráveis aos partidos de Direita e de extrema-direita. Tudo isso tem dado força para a burguesia “fechar a democracia” e atacar ainda mais os trabalhadores e seus direitos.

E desorientada pela ausência de uma alternativa de Esquerda e socialista, parte da classe trabalhadora se ilude e até passa a acreditar, por exemplo, que os problemas de rebaixamento salarial, desemprego e os vários problemas sociais são por conta dos imigrantes.

As razões

A explicação do crescimento da Direita pelo mundo, no nosso modo de ver, tem vários elementos a serem considerados. Primeiro, é a ausência de lutas em que a classe trabalhadora cumpra seu papel de protagonista em relação aos demais setores. Segundo, diretamente ligado ao primeiro, é a própria consciência da classe trabalhadora ainda nutrindo a esperança de que os problemas podem ser resolvidos “pacificamente” dentro do capitalismo. E, terceiro, é a inexpressiva força política e inserção social da Esquerda socialista mundial.

Essa Direita é a velha burguesia

Aproveitando-se desse processo a Direita e a extrema-direita tentam ocupar um espaço que era historicamente da classe trabalhadora e da Esquerda socialista, inclusive, se utilizando de um discurso contra “a política e os partidos tradicionais”, como se fossem o novo na política.

Não são renovação. Como os “direitistas modernos” (Hitler, Mussolini, as ditaduras militares, Saddam Hussein, dentre tantos outros reacionários) já provaram que o capitalismo não é alternativa para a solução da crise. Vão continuar fazendo e até aprofundando somente o que interessa aos capitalistas.

São instrumentos do capital para atacar ainda mais os direitos da classe trabalhadora e ajudar a salvar os capitalistas da crise. Contra as lutas dos trabalhadores fazem o mesmo que os “burgueses democráticos”, ou seja, a Direita e a extrema-direita são apenas faces do capitalismo.

É possível construir uma alternativa de esquerda

Além de possível é necessário e urgente jogarmos nossas forças para a construção da alternativa de Esquerda e socialista.

O capitalismo em sua forma “democrática” ou reacionária vai levar a humanidade para o fundo do poço e não consegue atender as reivindicações mais básicas da humanidade, apesar de produzir cada vez mais riqueza.

O fato de a Direita não ter se tornado uma força hegemônica é também por conta da desconfiança de setores da classe trabalhadora em relação às suas propostas.

Neste sentido, a apresentação do programa anticapitalista e socialista para toda a classe trabalhadora é tarefa urgente. A classe trabalhadora luta quando tem motivo e razão. E acabar com o desemprego, com a fome, com a miséria, as guerras, etc. já é razão suficiente para lutar.

Apoiar as lutas da classe trabalhadora como a da independência Catalã, parte de um direito democrático de constituição de seu próprio Estado, também é fundamental para fortalecer a classe e contribuir para que se dê um salto de qualidade na luta contra a burguesia madrilena ou mesmo contra a burguesia catalã.

Portanto, é fundamental fortalecer a classe trabalhadora e a construção em seu seio da alternativa de Esquerda socialista.

Direita e fascismo: Partem de ideias comuns, mas há diferenças

Alguns conceitos são difíceis de precisão e esse é o caso do conceito de Direita, por exemplo. Pode ser de Direita quem defende o funcionamento das instituições da democracia parlamentar burguesa, o defensor de regimes reacionários, os direitistas liberais conservadores, os direitistas reacionários e até mesmo os fascistas.

Para contribuir reproduzimos duas importantes definições: de Trotsky sobre fascismo e de Bobbio sobre conservadores.

Norberto Bobbio, no Dicionário Político, considera como conservadorismo as “ideias e atitudes que visam à manutenção do sistema político existente e dos seus modos de funcionamento, apresentando-se como contraparte das forças inovadoras”.

Trotsky, em O marxismo e a nossa época, diz que “O fascismo baseia seu programa na dissolução das organizações operárias, na destruição das reformas sociais e no aniquilamento completo dos direitos democráticos, com o objetivo de impedir o renascimento da luta de classes do proletariado”.

Portanto, podemos nos deparar desde um “moderado” Bill Clinton até um “radical” Trump, mas ambos representam ideias capitalistas que visam impor sobre a classe trabalhadora os planos para manter ou intensificar a exploração. São formas como o capital se expressa, sem mudar seu conteúdo como um sistema social que por essência é uma ditadura contra a classe trabalhadora.

É, como diz Jackson Miranda, do site “voltemos à direita”: É “contra o marxismo e todas as suas vertentes que nós conservadores fazemos oposição”.

Enfim, a Direita tem como objetivo derrotar as lutas e colocar a classe trabalhadora sob seu domínio, sob o domínio da burguesia, sob o domínio do capital.