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O proletariado europeu mostra o caminho


8 de fevereiro de 2009

Os dados oficiais dos países europeus confirmam o que os trabalhadores já detectaram na prática há muito tempo: há uma grave crise econômica mundial.

Um recente documento da Comissão da Comunidade Européia (composta por 27 países) é enfático: a crise financeira ainda não cessou e já está a degenerar numa grave desaceleração da economia no seu conjunto, afectando as famílias, as empresas e o emprego” e ainda “A desaceleração da actividade económica afectará as famílias e as camadas mais vulneráveis das nossas sociedades, fazendo já sentir os seus efeitos em termos de desemprego”.

Sob o ponto de vista dos trabalhadores, o texto é explicito: os efeitos da crise afetam diretamente a classe trabalhadora.

Outro aspecto importante do documento é o reconhecimento, já em outubro de 2008, de que a crise não é só financeira e muito menos isolada, pois atinge a economia capitalista de conjunto: “A crise financeira suscitou questões de governação a nível mundial, que ultrapassam o sector financeiro”.

A novidade dessa nova crise capitalista é o fato de estar no coração do sistema, com países centrais enfrentando grandes dificuldades e adotando medidas que, sob o pretexto de ajudar o povo, utilizam bilhões de dinheiro público para salvar as empresas e bancos.

O sistema financeiro de vários países do continente recebeu socorro dos governos com a injeção de bilhões de euros. O endividamento do Estado tem se tornado um grave problema nas principais economias.

Nenhum analista burguês e nem os governos negam mais: A Europa, que ocupa papel fundamental na economia capitalista, está em recessão. Dados oficiais, divulgados no início desse ano, apontam para um aprofundamento da crise,pois França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Espanha,etc apresentaram retração na economia.

E a crise tem uma outra conseqüência: o aumento da competitividade no mercado mundial. Com isso o imperialismo europeu aprofunda os ataques sobre as conquistas dos trabalhadores para reduzir custos com a produção, o que lhe permite melhores condições na competição por novos mercados.

Destacamos também que esse processo ocorre no conjunto dos países da Europa, sejam centrais ou periféricos com desigualdades ou ritmos distintos, mas não significa que estejam “descolados” desse processo mais geral. Essas desigualdades não anulam a caracterização fundamental de que todos, em maior ou menor grau, são parte dessa crise.

 

tanto lá quanto cá, os trabalhadores são as vítimas

A solução capitalista para a crise passa por adotar medidas que garantam a manutenção do lucro. Dois mecanismos principais têm sido adotados para a preservação das empresas: 1)a intervenção do Estado (desmascarando de vez o neoliberalismo de que o Estado não deve intervir na economia) com liberação de verbas públicas para bancos e empresas, ou na forma de incentivo fiscal ou mesmo de aplicação direta como a compra de ações e papéis podres. 2) A aplicação direta, por parte de empresas e governos, de ações  que atinjam os direitos trabalhistas (como redução de jornada com redução de salário, por exemplo) e aumente as demissões.

Destacamos duas questões em relação ao desemprego nesse período: 1)grande parte das demissões é promovida por empresas/bancos que recebem ajuda do Estado; 2) Essa eliminação de postos de trabalho é uma das características centrais e atuais do capital, pois o aumento do desemprego estrutural está aliado ao desenvolvimento tecnológico e as novas formas de gerenciamento aplicados à produção e fazem com que se reduza drasticamente o trabalho humano.

Podemos observar melhor esta dinâmica através dos números apresentados no relatório Tendências mundiais de emprego em 2009 da “suspeita” OIT que aponta para o fechamento de 50 milhões de postos de trabalho nesse ano, o que elevaria para 230 milhões de pessoas desempregadas no mundo. Além dos números que evidenciam a situação de miséria no planeta, pois de 3 bilhões de pessoas empregadas: 1,3 bilhão ganha até 2 dólares diários e 489,7 milhões ganham menos de 1 dólar por dia.

 

o velho continente presencia uma nova onda de lutas

Na Europa o desemprego não pára de crescer.Dados das agências oficiais apresentam: Na Alemanha são mais de 3,2 milhões de desempregados podendo chegar a 4 milhões em menos de 1 ano; na Espanha os desempregados também já passaram dos 3 milhões; Na Inglaterra a expectativa é de que em 2010 serão mais de 3 milhões,50% maior que o número de 2008. Na França existem mais de 2 milhões de desempregados. Nos países do antigo “bloco soviético” o desemprego médio é de 10%. Apesar dos governos negarem, a tendência geral é que o desemprego continue aumentando, pois todos os dias os grandes monopólios/oligopólios imperialistas continuam informando milhares de cortes de postos de trabalho.

A crise, a ameaça de desemprego e os ataques que a burguesia  está desferindo contra os trabalhadores estão colocando em cena atores importantes da luta de classes mundial: os trabalhadores e jovens do velho continente. As lutas que a juventude européia protagoniza e as recentes manifestações do proletariado europeu são apenas demonstrações da criação de novas possibilidades para luta de nossa classe.

Essas lutas representam a continuidade de um processo anterior que vinha se desenvolvendo já há algum tempo:

Bélgica: no mês de outubro os trabalhadores – públicos e privados –  desencadearam a mais importante luta dos últimos tempos. A paralisação alcançou trabalhadores metalúrgicos, dos Correios, do transporte público, da indústria automobilística Audi e dos supermercados Carrefour. O destaque é que essa luta ocorreu mesmo com as direções sindicais defendendo apenas mobilizações para “pressionar” o governo.

Na França, também no mês de outubro, trabalhadores da Renault da região de Sandouville realizaram uma importante greve contra a demissão de 1000 trabalhadores. Um fato interessante foi essa greve obrigar Sarkozi a cancelar uma viagem programada para essa fábrica, sob a alegação de “que não é conveniente ir a uma fábrica em luta”. O processo de mobilização se estendeu para dezembro com a luta de estudantes e professores contra uma proposta francesa de reforma no ensino secundário que, entre outras coisas, geraria o saldo de mais de 13 mil demissões de professores.

Essas mobilizações, na mesma época em que ocorriam na Grécia, obrigaram o governo francês a recuar nessa reforma e nas discussões sobre flexibilização de leis trabalhistas.

O ano de 2009 começa com várias mobilizações de sem-teto, metalúrgicos e funcionários públicos. Nesse contexto de surgimento de movimentos sociais destacam-se grupos de desempregados e trabalhadores denominados de "Robin Wood dos supermercados" que se reúnem para saquear supermercados em Paris e outras cidades, como Rennes e Grenoble e depois distribuir para os pobres.

Esse processo de lutas culminou em 29/02 em uma greve geral de trabalhadores do setor público e privado e do movimento estudantil. Paralisou diversas repartições públicas e teve a adesão do setor de transportes. A greve foi motivada, além do acúmulo das tensões anteriores, pela tentativa do Governo Francês de impor aos trabalhadores uma reforma previdenciária que tem em sua pauta, inclusive, a elevação do tempo de contribuição, e busca retirar dos trabalhadores vitórias há muito conquistadas.

Com a participação de um milhão e meio de trabalhadores esta  manifestação transformou-se em uma das maiores dos últimos anos. Condena-se não só a gestão da crise por Nicolas Sarkozy, mas também os próprios fundamentos da solução capitalista para as crises, que reserva ao trabalhador a miséria.

O caráter massivo e unitário da greve – que contou com trabalhadores das empresas automobilísticas, da construção civil, bancários, químicos, funcionários públicos, trabalhadores dos Correios, de hospitais e estudantes – é uma demonstração importante de que o proletariado está percebendo a necessidade de lutas unificadas pela defesa da classe e serve de indicativo para os demais trabalhadores do mundo de como devemos enfrentar a crise.

No mês de dezembro a Espanha também foi sacudida por mobilizações estudantis contra o “plano Bolonha”, uma reforma universitária que abre a possibilidade de privatização da educação. Antes, em novembro, os trabalhadores da Nissam já haviam realizado uma importante mobilização contra a demissão de mais de 1600 trabalhadores e com a invasão da sede da empresa.

Outro importante processo de mobilização foi o protagonizado pelos estudantes, professores e pais de alunos na Itália contra a lei Gelmini (ministra da Educação) que corta quase 8 bilhões de euros das verbas para a Educação, ameaça de desemprego 130 mil professores nos próximos anos com a redução para 1 professor por sala (desde a década de 70 são três professores por sala de aula no ensino primário), separa em classes distintas imigrantes e italianos e inicia um processo de privatização das universidades. Somente em Roma as mobilizações reuniram mais de 1 milhão de pessoas, além de manifestações em cidades importantes como Milão, Sicília, Turin e outras. Mas infelizmente o governo de Berlusconi conseguiu impor essa reforma e o movimento retrocedeu.

Sem dúvida, a mais importante mobilização do velho continente ocorreu na Grécia no mês de dezembro. Iniciada contra o assassinato pela polícia do jovem Alexis Grigoropoulos logo se espalhou por várias cidades. Atenas era o centro e a “gota d’água” para os protestos foi ação covarde da polícia. A situação política e econômica – com milhares de trabalhadores vivendo abaixo da linha da pobreza e um alto nível de desemprego que, oficialmente, alcançou 23% – colocou a juventude como principal vítima. A maioria dos jovens quando terminam seus estudos não conseguem emprego e quando conseguem os salários não passam dos 600 euros, constituindo o que os gregos chamam de “geração dos 600 euros”.

Expressando um processo muito mais profundo de descontentamento social as mobilizações logo se espalharam e várias categorias se incorporaram à luta com a realização de greves e manifestações em conjunto com os estudantes, o que constituiu uma importante aliança para a luta e permitiu caráter de classe mais definido. O ápice desse processo foi a greve geral de  10 de dezembro, que paralisou os principais centros econômicos do país.

 

uma vitória dos trabalhadores da europa pode ser decisiva

A vitória dos trabalhadores europeus, pela sua força política e social, é decisiva para a luta de classes em nível mundial. Uma burguesia poderosa, como a da Europa, merece um proletariado poderoso que em movimento coloca uma nova perspectiva para a luta dos trabalhadores no mundo. Está nos países imperialistas a principal frente de batalha do proletariado mundial. Na luta de classes podemos dizer que os ventos do norte movem moinhos.

Não acreditamos que se tenha apagado da memória dos trabalhadores europeus os feitos heróicos e históricos que seus antepassados protagonizaram. As revoluções do início do século XX foram vitórias espetaculares sobre a burguesia e o imperialismo.

Assim, acreditamos que no próximo período o proletariado europeu continuará no caminho das lutas. Serão lutas de vida ou morte, pois ou avançaremos nas nossas lutas ou deixaremos o caminho para a burguesia jogar sobre as nossas costas os custos da crise por ela provocada. Como em todas as crises a saída para o capitalismo tem sido o aumento da barbárie e da miséria de populações inteiras.

A crise, por ser global, envolve todos os países, tanto de economia imperialista quanto os de economia dependente. O capital é único. A crise é única em todo o mundo e nos possibilita afirmar que o responsável por seus efeitos devastadores é o sistema capitalista.

Sendo assim, cada luta de trabalhadores que acontece no mundo é a nossa luta. Somemo-nos em cada uma delas com solidariedade e apoio. Fortalecemos cada uma delas colocando-nos em movimento. Unimo-nos em cada luta para destruirmos o que não serve mais e para construirmos uma sociedade socialista.