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Crise expõe barbárie capitalista: avanço da xenofobia


11 de abril de 2009

 

A mobilidade do trabalho, ou dos trabalhadores de um lugar para outro no intuito de ocupar postos de trabalho, em razão da escassez destes ou por conta de melhores condições no trabalho e de rendimentos maiores, provoca grandes êxodos, entre regiões localizadas em um mesmo país ou internacionais.

Esse deslocamento em massa provoca conseqüentemente o aumento da densidade populacional nos locais de destino desses trabalhadores e também a elevação da competição entre os próprios trabalhadores. Esse processo em última instância é interessante aos detentores dos meios de produção e aos tomadores de serviço na medida em que se amplia quantitativamente o exército industrial de reserva, gerando a diminuição do valor dos salários.

Como desdobramento desse fenômeno, também ocorre nesses lugares de destino o aumento do desemprego e da precarização das condições de vida dos trabalhadores de um modo geral, seja por conta de uma super ocupação combinada com a despreocupação dos Estados em construir infra-estrutura para readequar o espaço urbano a sua nova dimensão populacional. Essa massa humana em deslocamento acaba sendo segregada em locais desfavoráveis do ponto de serviços públicos, nas periferias das cidades, constituindo grandes bolsões de pobreza e miséria, como as favelas ou bairros degradados. Sendo que esse estado de déficit habitacional é apropriado mercadologicamente pelos empresários do setor imobiliário para especular e construir moradias, por meio de subsídios estatais ou de financiamentos públicos, moradias as quais são construídas nesses lugares distantes ou em outros tão desfavoráveis para o deslocamento aos centros urbanos quanto os lugares de favelização. Inclusive, nos Estados Unidos, a crise do setor imobiliário afetou os trabalhadores pobres mutuários que perderam as casas, hipotecadas como garantia de pagamento, e quanto a essa questão em particular, o geógrafo norte americano David Harvey, em entrevista concedida a revista Le Monde Diplomatique Brasil do mês de março de 2009, explica que:

“a estrutura da crise financeira nos Estados Unidos é notadamente urbana no que diz respeito a suas origens. E é justamente essa relação que eu considero importante a analisar. Um dos resultados da crise é que cerca de 3 milhões de pessoas perderam suas casa nos Estados Unidos no último ano. Provavelmente, antes que esse processo termine, entre 6 e 10 milhões de pessoas estarão na mesma situação. Se observarmos onde isso aconteceu, a onda inicial de inadimplência ocorreu em duas áreas específicas: uma delas, as velhas cidades dos Estados Unidos, como Cleveland, Baltimore e Detroit; a outra coincide com a distribuição da população negra. Na realidade, tivemos o que podemos chamar de um Katrina financeiro, que atingiu todas as cidades, simplesmente varrendo do mapa os bairros pobres em municípios como Cleveland e Baltimore. Em Cleveland ocorre uma sobreposição perfeita entre bairros ocupados por afro-americanos e os lugares onde estão o maior número de pessoas que perderam suas casas por causa das execuções hipotecárias”

Esses bairros pobres a que se refere David Harvy são ocupados principalmente por imigrantes de origem latino-americana e de regiões pobres do oriente e da Europa, que serão lançados em estado de maior degradação humana.

Esse movimento de mobilização humana tem provocado o descontentamento de setores da extrema-direita, que, não de hoje, perseguem e procedem a assassinatos de imigrantes, como, por exemplo, o movimento contra o negro e o latino-americano nos Estados Unidos, que ganha coro junto com o movimento da Lei e Ordem, de cunho nitidamente fascista. E esse processo da crise econômica mundial, que se encontra em aprofundamento e que já colocou a economia mundial em recessão, está gerando aumento vertiginoso dos índices de desemprego no mundo todo, a começar pelos centros do capitalismo. Então, os imigrantes, que já são alvo de políticas de extermínio, passam a ser entendidos por parte dos trabalhadores demitidos, que são obrigados a disputarem postos de trabalho mais precarizados, como inimigos, desconsiderando categoricamente o aspecto de classe e possibilitando as condições para disputas violentas entre os próprios trabalhadores. Esse fenômeno ideológico e medonho é apropriado pelos setores da ultradireita, que tentam catalisar essa relação destrutiva. Por isso, verifica-se, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, o avanço da xenofobia, inclusive estatal, que se manifesta por meio de políticas de barreira nas divisas contra a imigração, o não fornecimento de vistos e as perseguições policiais. Exemplos disso são o vergonhoso muro que separa a divisa entre os Estados Unidos e o México, em cujo lado americano existem mercenários que literalmente caçam imigrantes e criam uma rede de corrupção para permitir a entrada de alguns, e os assassinatos de latino americanos em países europeus pela própria polícia, sob o argumento de que seriam criminosos ou suspeitos. Portanto, a crise tem acentuado o deslocamento do trabalho para países mais industrializados e confrontado isso com o desemprego nestes países.

Nesse cenário, os Estados europeus ocidentais têm hostilizado os imigrantes provenientes da África, América, Oriente Médio e, sobretudo, do leste europeu. A crise já impactou com grande intensidade os países do leste europeu, de tal forma que alguns países como a Letônia passam situação de instabilidade política no governo em razão do desemprego e da falta de medidas eficientes para a sua contenção, que levou o então primeiro ministro a renunciar em 20 de fevereiro de 2009. Na Ucrânia a crise causou a diminuição da exportação de aço e o endividamento do Estado tem dificultado medidas de intervenção na economia. Isso tudo provocou êxodos imigratórios em direção aos países da Zona do Euro, os quais estão aplicando medidas para dificultar esse movimento. O Estado Alemão tem assumido forte intenção de impedir a imigração e em abril de 2009 pretende discutir uma lei que proibirá a concessão de vistos para imigrantes de cerca de 8 (oito) países do leste europeu. Na mesma direção, a Holanda também tem dificultado os fluxos imigratórios.

Recentemente, a Europa foi palco de fortes insurgências relacionadas com o desemprego e a questão da imigração. O ano de 2008 na França foi marcado por violentas manifestações de imigrantes, africanos na maioria. Esses imigrantes criticavam a política do governo Sarkozy de expulsar imigrantes ilegais e exigia a legalização e também apontava o forte nível de desemprego, sendo as manifestações duramente reprimidas pela polícia francesa. Paris tornou-se um campo de guerra urbana. Contudo esse movimento dos imigrantes africanos pela legalização não se iniciou em 2008, já em outubro de 2005 foram travados violentos enfrentamentos com a polícia, que foram deflagrados após dois jovens imigrantes morreram eletrocutados durante perseguição empreendida pela polícia. É, portanto, nítida a postura xenofóbica do Estado francês, a qual continua sendo conduzida pelo governo Sarkozy, que deverá, inclusive, ser fortalecida diante da crise econômica. Além disso, na Grécia também ocorreram enfrentamentos em dezembro de 2008, organizados principalmente por anarquistas em conjunto com organizações da esquerda, sendo que a maioria dos manifestantes era de estudantes que ocuparam diversos prédios públicos e procederam a fortes manifestações de rua. O poder público grego adotou, não de agora, uma política endurecida contra as manifestações populares e contra os imigrantes, por meio da criminalização dos movimentos sociais e por investidas contra imigrantes ilegais, resultando, inclusive em mortes não esclarecidas pela polícia e também marcadas por absolvições, criando certa dose de crise nas instituições do Estado, sobretudo o Judiciário. Tanto que as grandes manifestações de dezembro de 2008 foram iniciadas após o assassinato pela polícia do estudante Alex Grigoropoulos , em 6 de dezembro. Após esse fato, estudantes invadiram as ruas de diversas cidades gregas, dentre as quais, Atenas, Salônica, Patras, Larissa, Iraklion, Chania (Creta), Ioannina, Volos, Kozani, Komotine. A propósito, em Petras ocorreu um ataque violento de radicais de direita contra a sede de uma organização política de imigrantes, tendo sido lançada uma bomba contra a janela do prédio em que se encontravam os militantes, durantes a realização de uma reunião.

Esses fenômenos de levantes populares, incluindo os imigrantes segregados e perseguidos pelos aparelhos de repressão estatais, não estão assumindo maiores dimensões por acaso, sendo eles conseqüências diretas da crise estrutural do capital que tem provocando o aumento do desemprego e a precarização das condições de trabalho e de vida do proletariado no mundo todo e nesse cenário os imigrantes são parte dos setores mais explorados e expropriados pela burguesia, e cuja situação civil os coloca em posição de extrema precariedade no tocante aos direitos sociais. A crise econômica em curso acentuará a xenofobia e os partidos de direita já estão utilizando isso para aumentar a hostilização em relação aos imigrantes e, principalmente, para dividir os setores da classe trabalhadora e dificultar sua organização para a luta contra o capital.